Instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), agosto é o mês de sensibilização e combate aos linfomas, através da campanha “Agosto Verde Claro”, que visa alertar sobre a importância do diagnóstico precoce. Linfomas são um grupo de neoplasias originadas no sistema linfoide, local do nosso organismo onde habitam as células imunológicas, que são responsáveis pela defesa do corpo a agentes externos, como infecções. Segundo a médica Hematologista do Corpo Clínico do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, Daiane Weber, o sistema linfoide é representado principalmente pelos linfonodos, os gânglios ou ínguas, mas, eventualmente, os linfomas também podem infiltrar outros órgãos ou a medula óssea.
Daiane explica que existem dois tipos principais de linfomas: Linfomas de Hodgkin (LH) e Linfomas não Hodgkin (LNH). “Os dois se diferenciam pelo tipo de célula doente e por características clínicas da doença”, conta. Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), por razões ainda desconhecidas, os casos de Linfomas Não Hodgkin duplicaram nos últimos 25 anos, principalmente entre as pessoas com mais de 60 anos, atualmente correspondem a cerca de 80% dos casos, sendo o tipo mais comum da doença. “Com características distintas, existem mais de vinte subtipos de LNH. Há os subtipos indolentes, ou seja, de crescimento lento, que pode levar meses a anos e subtipos agressivos, de crescimento rápido, levando de dias a semanas e causam mais sintomas e danos no organismo”, pontua Daiane.
Já o Linfoma de Hodgkin corresponde aproximadamente 20% dos casos e pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum em jovens na faixa etária dos 25 a 30 anos. Dados do INCA mostram que a incidência se manteve estável nas últimas cinco décadas, enquanto a mortalidade reduzida em mais de 60% desde o início dos anos 1970, em virtude dos avanços nos tratamentos.
Daiane ressalta que ainda não se sabe o motivo pelo qual o linfoma se desenvolve. “Não parece existir uma causa hereditária bem estabelecida, ou seja, ter algum familiar com a doença aparentemente não aumenta o risco de desenvolver linfoma. Acredita-se que a doença acontece quando alguma célula que do sistema linfático se transforma em célula maligna, crescendo de forma descontrolada e perdendo a sua capacidade de proteger o organismo”, relata.
A médica pontua que o aumento do risco de linfoma está relacionado com situações que comprometem o sistema imunológico, sendo em função de medicações, como imunossupressores ou alguma doença, como HIV. “Entre as infecções virais, o vírus Epstein bar (EBV) tem relação com a doença. Exposição a substâncias químicas como agrotóxicos, benzenos, solventes, radiação ionizante também são considerados fatores de risco, principalmente para os linfomas não Hodgkin”, afirma.
Sinais e sintomas
O primeiro sinal da doença, conforme Daiane, é o aumento indolor de algum gânglio linfático, o surgimento de alguma íngua (caroço) no pescoço, axilas ou virilhas. “Esta alteração, normalmente, é percebida primeiramente pelo próprio paciente ou por alguém da família”, alerta. Além disso, “também pode ocorrer febre, suor noturno, emagrecimento sem causa aparente ou aumento do volume do baço, podendo ser sentido como desconforto na barriga ou sintomas de estufamento ou aumento de volume abdominal (quando o baço atinge grandes proporções). Tosse que não alivia e dura semanas também deve ser avaliada, podendo ser um sinal sugestivo de aumento de ínguas no peito”, revela.
Ainda, no Linfoma de Hodgkin, a médica explica que coceira sem motivo aparente também pode ser um sintoma. “Sempre importante ressaltar que quanto mais avançada for a doença, mais sintomas associados aparecerão. Doenças bem precoces podem ter como única manifestação o aumento das ínguas”, assegura.
Diagnóstico e tratamento
Após avaliação e palpação do linfonodo doente por um médico, Daiane ressalta que é essencial a retirada para análise, pois existem muitas outras causas de aumento de ínguas, como infecções virais, bacterianas ou outras. Assim, “o diagnóstico definitivo dos linfomas é feito através da biópsia do linfonodo doente. Desta forma, o linfonodo inteiro é retirado por meio de um procedimento cirúrgico e enviado para análise. Na maior parte das vezes, é um procedimento simples, realizado pelo cirurgião, com anestesia local”, avalia. A profissional ainda reitera que a punção do linfonodo feita com agulha não é o método ideal para realização do diagnóstico, sendo reservado somente para alguns casos específicos nos quais não é possível a retirada do linfonodo inteiro. “Exames de imagem são realizados para avaliar a extensão da doença (tomografia computadorizada, ressonância magnética ou PET SCAN). A biópsia da medula óssea, quando indicada, é realizada para avaliar a extensão da doença, normalmente após o diagnóstico confirmado de linfoma”, esclarece.
O tratamento é realizado pelo médico Hematologista e é baseado na administração de medicação oral ou endovenosa, visando a cura ou controle da doença, de acordo com o tipo do linfoma. “Diferente de outros tipos de câncer, o tratamento dos linfomas não é feito com cirurgia. Assim, o tratamento específico depende do tipo do linfoma e se baseia em quimioterapia, radioterapia, imunoterapia ou associação entre estes”, salienta. O número de ciclos depende do tipo do linfoma e da extensão da doença. “Para realização da quimioterapia, na maior parte das vezes, o paciente necessita realizar a colocação de um cateter (portocath), o qual possibilita a aplicação das medicações de forma mais segura. O transplante de medula óssea, geralmente, não está indicado precocemente, sendo reservado na maioria das vezes para os casos em que a doença volta a aparecer após o tratamento inicial”, pontua Daiane.
Prevenção
A prevenção pode ser feita através de hábitos de vida saudáveis, com exercício físico e dieta rica em verdura e frutas. “Também é importante evitar exposição a produtos químicos que podem ser carcinogênicos a longo prazo, como os agrotóxicos, derivados do benzeno, solventes etc. Assim, para os profissionais destas áreas é sempre recomendado o uso de equipamento de proteção individual (EPI). O autocuidado é primordial já que na maior parte das vezes a percepção de algum “caroço” é feita pelo próprio paciente”, afirma a profissional.
Daiane afirma que a realização de exames médicos periódicos e de rotina são essenciais na prevenção da doença, pois aumenta as chances de diagnóstico precoce, nos casos da doença em estágio inicial, têm maior chance de cura. A médica orienta que em casos de dúvidas ou na percepção de algum dos sinais ou sintomas, deve-se procurar um médico hematologista, pois é o profissional mais habilitado para a orientação, investigação e tratamento adequado.
Foto: Daiane Weber é Hematologista do Corpo Clínico do HSVP (Foto: Divulgação)